domingo, 30 de janeiro de 2011

Epônimos

Epônimo, a rigor, é uma personalidade que empresta ou dá o seu nome a algo. Pode ser um lugar, uma tribo, ou na Medicina, uma estrutura, um sinal, uma doença, como sendo uma espécie de homenagem ao primeiro que descreveu aquela particularidade. Entretanto, há um consenso geral entre estudantes e médicos que os epônimos são difíceis de memorizar, alguns sendo até mesmo imprecisos, visto que, por exemplo, uma mesma estrutura anatômica pode ter recebido diferentes epônimos em países diferentes. Existem assim linhas de pensamento que prezam que os nomes sejam então auto-explicativos. Exemplificando: Angulo de Louis por ângulo esternal.

Acontece que ainda existem profissionais que prezam muito os epônimos pelos mais diversos motivos. Longe de mim contradizer alguém com bem mais experiência que eu, mas prefiro seguir a linha de pensamento dos livros que procuram abolir o uso de epônimos.

Tendo em vista a dificuldade que encontrei durante a cadeira de semiologia resolvi fazer uma pequena lista de epônimos que me por assim dizer "pegaram no pé" durante os estudos. Essa lista refere-se principalmente a propedêutica abdominal e torácica e foi retirada de diversas fontes.

Síndrome de Budd-Chiari: Hipertensão portal com hepatomegalia. Ocorre devido à obstrução venosa do sistema de drenagem do fígado, frequentemente evoluindo com varizes esofágicas, encefalopatia hepática e coagulopatia por insuficiência hepática. Tem como tríade clássica a dor abdominal, ascite e hepatomegalia.
Sinal de Cullen: (Não meninas, o paciente não brilha na luz do sol nem se chama Edward) Trata-se do surgimento de equimoses periumbilicais de coloração azulada ou preta. Devem-se a hemorragia intraperitoneal e são geralmente indicativas de ruptura em gravidez ectópica ou pancreatite aguda.
Sinal de Murphy: Ao comprimir o rebordo costal direito no ponto cístico e pedir para o paciente inspirar este suspende a inspiração devido à dor.
Ponto de McBurney: Ao traçar uma linha imaginária entre a cicatriz umbilical e a espinha ilíaca ântero-superior direita. Este ponto fica no final do primeiro terço desta linha. Caso haja inflamação do apendice cecal, geralmente há hipersensibilidade neste ponto.
Sinal de Blumberg: Ao se comprimir o abdome do paciente, o paciente sentirá dor à descompressão brusca. É indicativo de peritonite, e se for positivo no Ponto de McBurney é indicativo de apendicite.
Regra de Curvoisier: Vesícula grande e palpável e presença de icterícia colestástica é indicativo de compressão do ducto colédoco por tumor por tumor da cabeça do pâncreas ou da papila duodenal
Posição de Schuster: Posição intermediária entre o decúbito dorsal e o decúbito lateral direito. Serve à palpação do baço.
Espaço de Traube: Espaço semilunar do sexto ao décimo primeiro espaço intercostal. Na verdade tem limitação imprecisa. Trata-se de área onde normalmente se encontra o fundo do estômago e tem som timpânico à palpação. Macicez ou submacicez são indicativos de que o estômaço foi deslocado por esplenomegalia, tumor peritoneal ou retroperitoneal, pseudocisto, tumor pancreático ou grande hepatomegalia.
Sinal de Jobert: Timpanismo na região da linha hemiclavicular direita onde normalmente se encontra a macicez hepática. Geralmente indica pneumoperitônio
Sinal de Gersuny: Indicativo de fecaloma. Esta presente quando à palpação de massa abdominal percebem-se crepitações características.
Semicírculo de Skoda: Paciente em decúbito dorsal. Da parte cranial da região epigástrica percute-se o abdome radialmente até semicirculo formado pela sinfise púbica e espinhas ilíacas antero superiores. Quando há ascite, o timpanismo é substituido gradualmente por submacicez e macicez pois o líquido ascitico se acumula na região mais caudal.
Sinal de Grey Turner: Equimoses nos flancos do paciente. Geralmente é indicativo de pancreatite aguda.
Sinal de Lapinsky (ou do músculo Psoas): Dor à compressão do ceco contra a parede posterior do abdome enquanto o doente eleva o membro inferior direito estendido.
Técnica de Mathieu: Mesma técnica de mão em garra para palpação do fígado.
Sinal de Rovsing: Dor na fossa ilíaca direita à compressão retrógada na fossa ilíaca esquerda e flanco esquerdo. (Alguma coincidência com o sinal de Blumberg?)
Sinal de Chutro: Desvio da cicatriz umbilical para a direita.
Sinal de Lenander: Diferença de temperatura mensurada na axila e no reto está em torno de 1ºC.
Sinal de Godet: (Ou cacifo ou fóvea) Presença de afundamento na pele à digitopressão devido a edema.
Sinal de Trousseau: Espasmo carpal ao se ocluir a artéria braquial do paciente durante 3 minutos. Geralmente é indicativo de hipocalcemia.
Tríade de Charcot: Indicativo para suspeita de colangite. Icterícia, dor abdominal e febre com calafrios
Pentade de Reynolds: Some à tríade de Charcot hipotensão e alteração do estado mental e você terá essa pêntade.
Tetralogia de Fallot: Doença congênita. Há presença de cianose, dispnéia, aorta deslocada, válvula pulmonar estreita, parede espessa do ventrículo direito e defeito do septo ventricular.

Admiro os neurologistas...e é só abrir um compendio desta especialidade que você vai entender o porquê.

Até a proxima,

Um comentário:

  1. Só pra corrigir: Na descrição do espaço de Traube tem que substituir "palpação" por "percussão". Valeu cara. Muito bom

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